Já há algum tempo, desde minha infância, ouço falar que a água é um recurso natural que tende a ser escasso. O Banco Mundial, universidades e empresas de saneamento falam sobre isto há mais de 50 anos. Preveem-se conflitos entre nações por disputa pela água.
A ONU, em 1992, destacou a data de 22 de março como o DIA MUNDIAL DA ÁGUA, como forma de, globalmente, abordar o tema. Em torno deste dia “chovem” reportagens sobre a ameaça de escassez de água no planeta. A UNESCO, percebendo o desenrolar das questões da água e como forma de buscar caminhos, selecionou a ano de 2013 como ANO INTERNACIONAL DE COOPERAÇÃO PELA ÁGUA.
E com razão, pois o crescimento demográfico desordenado do planeta prevê que em 2050 a população global chegará a 9,5 bilhões de pessoas. Como consequência aumentará a demanda por alimentos, pressionando o acesso aos recursos hídricos, já que a agricultura é responsável por 72% das necessidades de água doce do planeta, isso sem falar das necessidades da indústria, que corresponde ao consumo de 20% de toda a água doce.
A Ásia se apresenta como a região de maior carência de água. Na África Subsaariana, a água potável não chega para 40% dos habitantes, que convivem com severas secas. Ásia e África parecem lugares distantes de nós brasileiros.
No entanto, apesar do Brasil deter 12% das reservas de toda a água doce do planeta, e o Brasil tendo apenas 2,8% da população global, um total de 19% dos brasileiros não dispõem de água tratada, conforme dados do Ministério das Cidades, Isto demonstra o pouco compromisso dos brasileiros com o recurso natural água.
Observando o entorno de Belo Horizonte, uma importante cidade brasileira, apenas para citar um exemplo da velocidade das perdas hídricas dos rios e córregos, a meros 30 km da cidade, no sopé da Serra da Moeda, verifica-se que no ano de 1952 foram construídas 4 micro centrais hidrelétricas para geração de energia elétrica no Córrego do Barreiro para abastecer propriedades rurais. Hoje, apenas 60 anos depois, correspondendo a uma geração, o Córrego Barreiro diminuiu sua lâmina d’água de 3m de profundidade para os atuais escassos 20 cm. Resulta que os 4 aproveitamentos hidráulicos estão secos, desativados. Isto representa o enfraquecimento e morte do córrego em apenas uma geração. Um fato estarrecedor, uma falta de comprometimento de toda a gestão municipal e estadual, ilustrando um alheamento total da comunidade local.
Mas há o que fazer? É claro que sim!!! Temos exemplos de recuperação de nascentes, córregos, ribeirões e rios, tanto fora quanto no Brasil, apesar de casos raros aqui. Soluções de proteção de nascentes, evitando o pisoteio do gado, ressecamento do solo, assoreamento.
Soluções de execução de bacias de acumulação, retendo água de chuva, criando fontes de infiltração. Soluções de recomposição de mata ciliar, assegurando a estabilidade das margens e retendo o assoreamento dos leitos dos rios. Ações desta natureza, implantadas em córregos do semiárido do Norte de Minas Gerais permitiram, em 5 anos, aumentar a vazão dos córregos em até 6 vezes. Seis vezes!!!
É uma pena constatar que ações desta natureza se constituem casos raros. Há que promover estas ações em maior número e em mais locais. Este é um dos caminhos. Não o único, mas uma eficaz e urgente solução.