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Publicação ANO 2018 - Revista Mineira de Engenharia

Água: uma questão de atitude. Reflexões sobre o tema

Por Adalberto Carvalho de Rezende

Já há algum tempo, desde minha infância, ouço falar que a água é um recurso natural que tende a ser escasso. O Banco Mundial, universidades e empresas de saneamento falam sobre isto há mais de 50 anos. Preveem-se conflitos entre nações por disputa pela água.

A ONU, em 1992, destacou a data de 22 de março como o DIA MUNDIAL DA ÁGUA, como forma de, globalmente, abordar o tema. Em torno deste dia “chovem” reportagens sobre a ameaça de escassez de água no planeta. A UNESCO, percebendo o desenrolar das questões da água e como forma de buscar caminhos, selecionou a ano de 2013 como ANO INTERNACIONAL DE COOPERAÇÃO PELA ÁGUA.

E com razão, pois o crescimento demográfico desordenado do planeta prevê que em 2050 a população global chegará a 9,5 bilhões de pessoas. Como consequência aumentará a demanda por alimentos, pressionando o acesso aos recursos hídricos, já que a agricultura é responsável por 72% das necessidades de água doce do planeta, isso sem falar das necessidades da indústria, que corresponde ao consumo de 20% de toda a água doce.

 A Ásia se apresenta como a região de maior carência de água. Na África Subsaariana, a água potável não chega para 40% dos habitantes, que convivem com severas secas. Ásia e África parecem lugares distantes de nós brasileiros.

No entanto, apesar do Brasil deter 12% das reservas de toda a água doce do planeta, e o Brasil tendo apenas 2,8% da população global, um total de 19% dos brasileiros não dispõem de água tratada, conforme dados do Ministério das Cidades, Isto demonstra o pouco compromisso dos brasileiros com o recurso natural água.

Observando o entorno de Belo Horizonte, uma importante cidade brasileira, apenas para citar um exemplo da velocidade das perdas hídricas dos rios e córregos, a meros 30 km da cidade, no sopé da Serra da Moeda, verifica-se que no ano de 1952 foram construídas 4 micro centrais hidrelétricas para geração de energia elétrica no Córrego do Barreiro para abastecer propriedades rurais. Hoje, apenas 60 anos depois, correspondendo a uma geração, o Córrego Barreiro diminuiu sua lâmina d’água de 3m de profundidade para os atuais escassos 20 cm. Resulta que os 4 aproveitamentos hidráulicos estão secos, desativados. Isto representa o enfraquecimento e morte do córrego em apenas uma geração. Um fato estarrecedor, uma falta de comprometimento de toda a gestão municipal e estadual, ilustrando um alheamento total da comunidade local.

Mas há o que fazer? É claro que sim!!! Temos exemplos de recuperação de nascentes, córregos, ribeirões e rios, tanto fora quanto no Brasil, apesar de casos raros aqui. Soluções de proteção de nascentes, evitando o pisoteio do gado, ressecamento do solo, assoreamento.

Soluções de execução de bacias de acumulação, retendo água de chuva, criando fontes de infiltração. Soluções de recomposição de mata ciliar, assegurando a estabilidade das margens e retendo o assoreamento dos leitos dos rios. Ações desta natureza, implantadas em córregos do semiárido do Norte de Minas Gerais permitiram, em 5 anos, aumentar a vazão dos córregos em até 6 vezes. Seis vezes!!!

É uma pena constatar que ações desta natureza se constituem casos raros. Há que promover estas ações em maior número e em mais locais. Este é um dos caminhos. Não o único, mas uma eficaz e urgente solução.

Adalberto Carvalho de Rezende

Adalberto Carvalho de Rezende

Engenheiro. Sócio Diretor da ESCO Energy Saving Company e da ACR Soluções Racionais. Especialista em provimento de soluções para economia de insumos tais como energia, água, vapor, refrigeração, resíduos. Disponibiliza soluções em modelo de contrato de performance. Pesquisador na área de energia alternativa, em especial hidrogênio (célula combustível). Desenvolve programas de redução de perdas técnicas e comerciais, combate à fraude e redução da inadimplência aplicável às concessionárias distribuidoras de energia elétrica e também concessionárias de água/esgoto. Professor da Universidade Federal de Minas Gerais-UFMG, na Escola de Engenharia e Escola de Arquitetura e Urbanismo.