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Publicação ANO 2017 - Revista Mineira de Engenharia

Cavernas do Peruaçu: A exuberante harmonia com a natureza e o desastre hídrico ambiental do Norte de Minas

Por Adalberto Carvalho de Rezende

Participei com mais 40 pessoas, da Expedição Caminhos dos Geraes, que aconteceu entre os dias seis e 10 de setembro, na região do Parque Nacional Cavernas do Peruaçu. O passeio foi uma iniciativa da Secretaria Municipal de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável de Montes Claros, idealizado pela Fundação Genival Tourinho e com apoio de empresas e instituições públicas.

No nosso grupo, havia especialistas, empresários, órgãos de comunicação, academia, gestores públicos, órgãos de orientação e controle, dentre outros representantes da sociedade civil.

Sabendo do desastre hídrico em curso na região do Norte de Minas, os organizadores da expedição tinham entre os objetivos do evento, além de ampliar o conhecimento da colossal beleza natural das Cavernas do Peruaçu, mostrar a triste realidade do desastre hídrico estabelecido na região do Norte de Minas.

Dessa forma, pretendiam envolver os diversos atores da sociedade para, a partir da ciência dos fatos, buscar, em conjunto, dar apoio para a preservação das belezas naturais das Cavernas do Peruaçu, constando as condições para que seja apresentada ao mundo, como um patrimônio mundial da humanidade, ao mesmo tempo em que o conhecimento do desastre hídrico da região seja vivenciado pelos integrantes da expedição, como forma de sensibilização de todos para busca de soluções para interromper ou mitigar as desastrosas consequências da crise hídrica do Norte de Minas.

Os sítios arqueológicos do Parque Nacional Cavernas do Peruaçu, entre Januária, Itacarambi e São João das Missões é de beleza natural deslumbrante, com cavernas de dimensões inimagináveis, forjadas em 650 milhões de anos, com riqueza de detalhes geológicos preservados, inscrições rupestres com riquezas gráficas nítidas como se fossem feitas ontem. Um ontem de 9 mil anos.

O que os homens que ocuparam o local há 9 mil anos souberam preservar, não é o mesmo que se vê na região do entorno do Parque Enquanto as Cavernas do Peruaçu estão a ponto de serem candidatas a património mundial da humanidade, a região do entorno se apresenta em franco desastre hídrico.

Balneários que antes recebiam os turistas do norte mineiro, hoje estão secos e abandonados. Os rios secaram. As lagoas desapareceram. O Pantanal Mineiro, na bacia do Rio Pandeiros, historicamente um berçário natural dos peixes do São Francisco, está à míngua, agonizando, quase seco. As poucas nascentes sendo pisoteadas pelo gado. Gado de invasores da área. E os fiscais do IEF tem dificuldade ou não conseguem efetivar uma ação de retirada do gado.

Soma-se ao incêndio, a exploração hídrica dos mananciais, tanto das poucas águas superficiais quanto das águas profundas. A necessidade premente de água sinaliza que seu uso nem sempre se dá dentro das normas e práticas sustentáveis, eventualmente levando a exploração exagerada, abaixando o nível do lençol freático, reduzindo sobremaneira a umidade do solo, estabelecendo um acentuado processo de desertificação.

Também há relatos de plantações de eucaliptos que, após sua implantação, levaram ao desaparecimento de lagos e nascentes.

A realidade é que a região convive com fogo e sem água, uma combinação desleal com a natureza local.

As veredas, com suas características típicas de solos orgânicos, que mantém a água ou a umidade do solo superficial, ambiente amigável para a flora e a fauna, estão em franca e exagerada extinção.

Para completar o quadro de destruição, os incêndios já duram sete meses. Para um biólogo a imagem da destruição é arrasadora. Para um leigo a imagem é aterrorizante. Para você leitor da Revista Mineira de Engenharia, passo uma visão do local desse incêndio, com uma imagem que todos conhecemos da infância: o jogo “Pega Varetas’’. Quando soltamos as varetas, elas caem umas sobre as outras, aos montes. E esta a situação local. Um enorme “Pega Varetas” formado pelos milhares e milhares do Buritizeiros tombados, numa gigantesca área de veredas em chamas.

O fogo penetra no solo orgânico (turfa) e se estabelece, podendo atingir camadas de alguns metros abaixo. Duas chuvas que caíram neste período de sete meses, somando 100 milímetros de água não foram suficientes para a extinção do incêndio florestal.

Os empresários, as instituições, os órgãos de orientação e controle, a academia, os consultores e a sociedade tem que se unir para a busca de soluções. O problema é gigantesco e se apresenta com várias faces.

As soluções certamente não serão convencionais. Temos que colocar o nosso saber e nossa capacidade de focar para sermos parte dessas soluções.

A Sociedade Mineira de Engenheiros, por meio de suas Comissões Técnicas, é um ambiente fértil para fomentar soluções.

Adalberto Carvalho de Rezende

Adalberto Carvalho de Rezende

Engenheiro. Sócio Diretor da ESCO Energy Saving Company e da ACR Soluções Racionais. Especialista em provimento de soluções para economia de insumos tais como energia, água, vapor, refrigeração, resíduos. Disponibiliza soluções em modelo de contrato de performance. Pesquisador na área de energia alternativa, em especial hidrogênio (célula combustível). Desenvolve programas de redução de perdas técnicas e comerciais, combate à fraude e redução da inadimplência aplicável às concessionárias distribuidoras de energia elétrica e também concessionárias de água/esgoto. Professor da Universidade Federal de Minas Gerais-UFMG, na Escola de Engenharia e Escola de Arquitetura e Urbanismo.